segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Solução econômica para lixo radioativo(Fernanda)


Solução econômica para lixo radioativo

Alga reduz volume de resíduos de laboratório e facilita seu armazenamento

O sargaço, alga encontrada em muitas localidades do litoral brasileiro, pode ser a solução para o armazenamento de dejetos químicos e radioativos de laboratório. Em parceria com o Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD), a engenheira química Marta Cristina Picardo descobriu, durante sua tese de mestrado realizada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que a planta é capaz de atrair e concentrar isótopos de tório – um dos poluentes radioativos mais comuns – em meio líquido, o que diminui bastante o volume de material radioativo que precisa ser armazenado para evitar contaminação ambiental. A planta ainda é muito mais barata do que a chamada resina de troca iônica, única substância capaz de realizar a mesma operação. 


Trilhando o desconhecido 
A pesquisa teve início ainda na década de 1990, quando Costa estudou diversas algas do litoral brasileiro e descobriu que muitas delas eram capazes de atrair certos metais dissolvidos em água, com maior ou menor intensidade. A escolha do sargaço deveu-se à eficiência apresentada pelas algas marrons em geral – espécies marinhas, freqüentemente encontradas nas praias, que possuem um aspecto gelatinoso – na absorção de metais e à facilidade de encontrá-lo na natureza. 

O sargaço é abundante em várias praias do Sudeste e do Nordeste do Brasil, chegando até a causar problemas ambientais e turísticos, quando se acumula na areia. Em seu estudo, Picardo escolheu testar a capacidade de atração da alga em relação ao tório. Segundo Costa, esse é um dos elementos mais comuns nos dejetos radioativos – ao lado do urânio – e apresenta uma meia-vida muito longa, maior até que a idade da Terra (cerca de 4,5 bilhões de anos). “Por isso, precisa ser armazenado eternamente”, ressalta. 

 
Sargaço dentro de um sistema de laboratório utilizado no tratamento de soluções com metais.


Alternativa bem mais barata 
Na última fase da pesquisa, iniciada em abril, o sargaço está sendo usado em uma situação real: tratar o efluente gerado pelos testes de laboratório do IRD. Apesar de esse material conter diversos metais pesados e radioativos, somente os níveis de tório em solução estão sendo acompanhados durante todo o processo. Os pesquisadores decidiram ainda fazer a caracterização total do efluente no início e no fim do tratamento, para verificar se o sargaço também influi nas quantidades de outras substâncias em solução. “A idéia é que a alga substitua a resina de troca iônica em pouco tempo, mesmo que inicialmente seja apenas para os resíduos de tório”, prevê Costa. Essa etapa final deve ser concluída neste ano. 

Vantagens não faltam nessa substituição. A primeira e maior delas é econômica. O Brasil importa toda a resina de troca iônica que utiliza, por um preço que varia entre US$ 20 e 600 o quilo. Já o sargaço, por ser abundante, custaria muito menos. Além disso, a quantidade de sargaço necessária para absorver o tório é bem pequena: apenas 2 g de biomassa, equivalente ao volume usado de resina para cada litro de efluente. 

O único problema é que a alga só pode ser utilizada cinco vezes – depois de ter sido limpa com ácido –, enquanto a resina suporta mais. Mas como sargaço écomum e barato, os pesquisadores pensam em usá-lo apenas uma vez e depois queimá-lo, para produzir resíduos menores de tório. Diante do sucesso da pesquisa, outra tese de mestrado, dessa vez realizada no próprio IRD, se propõe agora a estudar a ação do sargaço sobre o urânio. 

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